sábado, 21 de maio de 2011

milhentos ninguém



Um metro errado, um caminho desconhecido por um mundo incerto e tempo perdido que nunca mais será recuperado.
Milhentas pessoas que não mais do que ninguém no meio de um distúrbio de baratas, na “hora de ponta”. Umas vão, outras ficam.
Uma criança bonitinha, com a sua graça de gancho na mão; este pequeno ser que é tão pequeno e não imagina a longa caminhada que a espera, cheia de buracos e saídas para lado nenhum.
Uma senhora deformada pelas escolhas da vida, com os olhos de um azul mais transparente que o mar e mais cansado que a noite. Desta vez, exausta por todas as ruas sem saída, caminhos desérticos e falsas avenidas.
Um homem de cabeça erguida de um nervoso miudinho nas mãos, de gravata na maça de Adão, coibindo a entrada da mais pequena parcela de ar. No seio de um cruzamento, os prós e os contras fazem-se sentir na balança, esquerda ou direita, para a frente ou para trás.
Um homem “vagabundamente” mal vestido, com traços faciais que nada mais lhe atribuem do que um ar arrepiantemente louco, possuindo, no entanto, uma doce personalidade sem dinheiro no bolso. Sem ambições ou a hipotética possibilidade de, com apenas uma velha mochila às costas e um maço de tabaco amachucado na mão ruma para o desconhecido, sem futuros assegurados ou tempo para pensar, apenas seguir em frente, sempre em frente, e esperar que não apareça um precipício.
São ninguém, não passam de ninguém para mim ou para outros tantos ninguém. Mas para outros tantos ninguém, são alguém, alguém que importa, alguém que faz um esmerado pequeno-almoço de surpresa e diz “amo-te” ao seu mais que tudo antes de adormecer. No entanto, não passam de ninguém para milhões.

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