Sinto muito!

Não passou, não esqueci, não me perdoei.

O tempo passou e apenas as recordações ficaram. De vez em quando ainda vou buscar os teus lensos que sempre adorei só para os cheirar e sonhar que estás comigo por uns instantes.

Não me é suportável, ainda não consigo ir ver-te sem chorar, sem me perder nas margens do cinzento do dia. Ainda não consigo pensar em ti sem que o vazio se instale e eu deixe de sentir o peito, ou melhor sem que este fique dormente de tanto doer.

Durante muito tempo foi-me mais fácil negar, foi-me mais fácil revoltar, não acreditar. Hoje não quero aceitar e acho muito dificil que o faça, porque não acho justo, nem por um segundo, que nos tirem quem mais amamos e, logo tu. Não tive tempo para compreender o quanto eramos parecidas, não tive tempo para gostar de ti como tu gostavas de mim, não tive tempo para te retribuir tudo e mais alguma coisa.

Tenho saudades de te ouvir chamar pela tua bebé com um sorriso nos lábios e um imenso orgulho na voz. Tenho saudades tuas.

Às vezes, quando as minhas mãos estão trémulas e o meu coração bate de insegurança, de saudade, de desespero, penso em ti, penso que sinto os teus braços à minha volta, penso que te ousso a cantarolar como sempre fizeste, sinto o vento na minha cara e quero acreditar que és tu.

Era pequena e não te entendia, agora tudo que eu tenho, eu trocava, só para poder estar contigo mais uma vez, perguntar-te porque voltei atrás para me despedir de ti, como se soubesse que seria a última vez. Só para poder usar os teus lensos, as tuas pinturas, as tuas roupas, só mais uma vez para te ver a sorrir, só para me levares uma última vez a dar de comer às gaivotas do douro.

Tenho medo de, com o passar dos anos, me esquecer das feições que me deram origem, tenho medo de me esquecer do tom de voz que tanto me acarinhou, tenho medo de me esquecer das marcas deixadas pelos braços fortes que em tempos me seguraram e eu não quero, não quero que caias no esquecimento do tempo e da rotina, não quero.