quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

E assim é



Hoje, faltam-me as palavras. Tenho dias assim, tenho momentos assim, pancas assim, coisas assim. Eu sou assim, podia ser assado, cozido ou até mesmo estufado mas sou assim.
Hoje faltam-me as estrelas e a lua que as nuvens me tiraram, roubando-me assim o único recanto que me dava conforto só de olhar, que fazia fluir com mais facilidade os pensamentos cá dentro. Não lhe chamaria de outra dimensão mas era, não tal e qual mas, como se bem devagarinho, sem dar por isso, a composição do ar se alterasse e tudo se tornasse meio nublado e mais leve, onde todos os relógios paravam sem se aperceberem.
Por pequenos instantes, aparentemente inexistentes, eu saía de mim, estava fora de mim e, mais tarde quando os relógios se apercebiam de que o tempo lhes fugia dos ponteiros, eu regressava a mim, alterada. Era como que um cognoscente que aprende o cognoscível, sendo eu, os dois.
Ultimamente, já não me incomodas, voltei a ser senhora de mim mesma, já reconquistei aqueles centímetros que me roubaste, confesso que ainda tenho aquela pequena tendência de me encostar à parade quando vou dormir, enroscando-me e aconchegando-me para recriar aquelas outras noites em que eram os teus braços que o faziam, não por serem os teus, mas porque me fazia sentir bem, plena e segura.
Aqui onde tudo é meu e não existe nada que não seja eu, nem sempre fácil e com um toque de surpreendente, é a minha casa, esta "dimensão" que tantas dores de cabeça (coração) me dá com estes imensos efeitos especiais.
Por vezes, muito raramente, nem preto nem branco, mas cinzento, seria caso para dizer "no meio é que está a virtude". Palavras em vão, "virtude" palavra para a qual não dou significado pois tenho a ligeira sensação de que sou um pouco para o tempestuosa e brutal. Brutalmente marada.
Mas sinto que me deixo levar pelos mesmo caminhos, pelas mesmas músicas, sinto que vou sempre ter aos mesmos sítios. Aparentemente diferentes, os encantos são iguais e a história repete-se vezes sem conta, novas esperanças sobre sonhos que ainda não esqueçeu, novas músicas sobre melodias que ainda ontem embalavam um coração.
Sou obrigada a pensar no que não quero, não por não gostar mas porque simplesmente me assusta de morte, sinto que o controlo está de novo a tentar fugir-me da mão e que a indiferença, o racionalismo e a frieza já não são os meus melhores amigos. E não quero, tudo isto no seu conjunto, leva a uma cegueira parcial que afecta mais do que o que devia.
Parece-me que as últimas semanas têm sido estranhamente diferentes, intensas, estonteantes.

2 comentários:

  1. "...tudo isto no seu conjunto, leva a uma cegueira parcial que afecta mais do que o que devia."

    Adorei. *

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  2. És brutalmente marada mas o texto está deveras lindo. Adorei cada palavra, e cada sentimento que depositaste nele. Deixa as coisas fugirem-te das mãos, às vezes é o que se precisa <3

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