quinta-feira, 31 de março de 2011

muralhas



Criamos uma muralha, maior do que a da China, mais forte, resistente e até bonitinha. No entanto, mais frágil do que uma bolha de sabão e improfícua como um guarda-chuva em dias de chuvinha e muito vento, quando descoberta a passagem secreta, o ponto fraco, não há salvação possível, destruída, derrubada e arrasada, em total ruína, só restam pedrinhas soltas, por aqui e por ali.

Extenuantemente abespinhada, com a frenética sensação de que todo aquele meticuloso tempo sobrepondo pedrinha sobre pedrinha, pedra sobre pedra, calhau sobre calhau, foi delirantemente desperdiçado, perdido e assassinado, tudo serve para despoletar a mais gigantesca, a mais grotesca e bruta reacção “alérgica”.

Assim como o clima, agora estranho e imprevisível, muda da noite para o dia, a minha disposição e limite de resignação muda de um segundo para o outro, sem quês ou porquês.

Pensando bem, aquela muralha era a completa e derradeira estupidez. Teoricamente falando, vivemos um dia de cada vez, aproveitamos todos os minuciosos momentos “como se fossem os últimos”, na prática, escondemo-nos, receamos, fingimos e vivemos apavorados, sobrevivemos portanto, vivendo apenas quando já estamos tão mal que tudo o que se segue é, meramente, indiferente, nessas escassas vezes vivemos como loucos desenfreados e lunáticos, o suposto estado de espírito com que se deveria viver, todos os segundos e mais alguns.

No final de contas, como que um ciclo vicioso temos a ordinária tendência de nos habituarmos a este estilo de vida, sonhando com o arrojado mas nunca saindo da “bolha protectora”, do “habitual” do que é “normal”, aumentando as expectativas para planos futuros e saindo como que fracassados quando não conseguimos corresponder a estas que por tanto ansiamos. Dependendo esta atitude, incongruentemente inculta e previsível, de variados factores, a vida torna-se entediante. Quando temos a coragem imprescindível para passar do mundo dos sonhos para a realidade, como se meios aluados e um pouco desprovidos de nós mesmos, provamos o doce e atrevido sabor de arriscar.

1 comentário: