Dias loucos

Existem dias em que ouço mas não escuto, olho mas não vejo, toco mas não sinto, falo mas não comunico, existo mas não vivo. Penso, em tudo, em nada, talvez até em não pensar.

Perco-me ao observar a noite, tudo passa pela minha cabeça, menos o tempo que continua a correr à minha frente, apercebo-me que inúmeros arrepios me atravessam o corpo, e penso se será apenas o frio que o vento me traz ou serão, estes, causados pelos pensamentos com que me deparo naquele momento.

As luzes longínquas que trespassam meus olhos, levam-me a questionar se serei louca, por estas ou outras razões, mas a pergunta mantém-se: "serei?"

Mais tarde dou conta de que o tempo correu, a exaustão apodera-se de mim e mil e uma vontades me percorrem o corpo, vontades inacreditáveis, insustentáveis e loucas mas ignoro e vou dormir.

Quando dou por mim, acordada, as vontades mantêm-se e o meu dia vai-se alterando à medida que não consigo mais guardar estas vontades para mim e, no fim, é tanta a energia acumulada que o meu instinto me leva a gritar, gritar para tudo e por tudo, grito com todas as forças que ainda restam no meu corpo exausto e depois pergunto a mim mesma: "serei louca?"